terça-feira, 21 de abril de 2009

Encapsulando as Favelas - Os Guetos Cariocas


"O muro do Cabral é a construção do imaginário demófobo." Elio Gaspari


Ao chamar de "demogogos baratos" os que criticam os muros que estão sendo construídos em torno das favelas da zona sul, o Governador Sérgio Cabral ataca escritores como José Saramago, Nobel de Literatura, Zuemir Ventura e Elio Gaspari. Também sociólogos e professores como Lucio Castelo Branco, da UNB, Jorge Fiori, da Universidade College London, especializado em desenvolvimento Urbano, Itamar Silva, Diretor do Ibase, morador do Dona Marta, Miguel Baldez, Fundador do Curso de Direito Social da Uerj, entre outros.

Mas devo destacar a coerência entre pensamento e ação do nosso chefe no estado.

Se as mães da favela são fábricas de marginais, nada mais correto do que cercar as comunidades com muros altos para que os ameaçadores rebentos já nasçam no presídio, condenados por antecipação pelo crime que podem um dia vir a cometer. Ou pela recalcitrante pretensão de nascer e viver na Zona Sul, com vista para o mar, ao lado do governador, sua família e seus amigos.

O antropólogo Roberto da Matta coloca o assunto no prumo certo. " No passado, quando éramos mais honestos, os escravos viviam enclausurados nas senzalas; hoje, usamos o ideário da correção política e falamos em proteção ambiental para segregar os mais desiguais." E completa: "Um muro para deter o avanço da iniquidade social que nós não conseguimos equacionar. Um monumento a nossa opção pela sacralização da desigualdade."

Eu, por minha vez, apenas enxergo fraqueza , incapacidade de governar, escapismo, fuga do problema real e, claro, a desesperada tentativa de capitalizar os votos da classe média acuada e desinformada. Vejo também, a extrema inanição dos movimentos sociais urbanos, o fim da organização comunitária nas favelas, que ao longo dos últimos anos, teve os seus líderes cooptados em troca de cargos e funções e a falta de mobilização popular que tanto satisfaz os que ocupam as cadeiras do teatro disfarçado de palácio. Não há reação à altura. Ninguém foi preso por derrubar o muro inconstitucional. Que bom!!!A construção do muro gera empregos de pedreiro. Além do medo de retaliação com a não implantação dos projetos sociais prometidos e que nunca chegam. E quando chegam duram apenas um mês nas mãos de ongueiros laranjas de políticos.


Expliquem os muros no Dona Marta e na Babilônia se estas Comunidades não cresceram horizontamente, reflorestaram suas encostas, mantém intocadas suas ecobarreiras e desenvolvem projetos ecológicos em parceria com o Poder Público?

O morador do asfalto teme, o favelado teme, e os políticos, em breve futuro, culparão o muro por não conter as favelas e a violência. Não é culpa da falta de política habitacional! É o muro o culpado! Não disputamos menino por menino com o tráfico, mas a violência será culpa do muro! Esta barreira estúpida incapaz até de esconder de nós as centenas de anos de covardia social. Só nos restará a remoção como alternativa. Tentamos o muro, a polícia...Agora vamos tirar a pobreza de perto dos olhos e o coração não sentirá.
Estes muros, por sinal, foram profetizados por Ignacio Loyola Brandão em "Não Verás País Nenhum." Eu profetizo a limpeza social. Uma questão de tempo.
Além dos fatores sociais, legais, antropológicos e de trazer novas alcunhas, " A Berlim Latina"ou a "Gaza Tropical", fatores técnicos não foram considerados pelos construtores. O muro, que deve proteger a mata dos pobres criminosos ambientais é ecologicamente incorreto. Também pode trazer problemas de instabilidade nas encostas, além de, em caso de um sinistro ( um incêndio, por exemplo) impedir a fuga dos moradores e a entrada dos bombeiros. Cadê as licenças ambientais e legais dos muros? O muro é ilegal, e daí?

Se há problemas nas favelas, e estes resvalam perigosamente de suas fronteiras, é porque as benesses públicas, tais como infra-estrutura, educação, moradia e saúde, franqueadas a cidade real, rica, não chegam às cidades pobres, surreais, das favelas. Isolar ou delimitar áreas pobres é a tentativa de encapsular a desigualdade e a verdade. É preciso respeitar a população da favela, tão usuária e contribuinte para a construção da cidade como as demais. É preciso que a cidade real se volte a cidade surreal, que seus serviços penetrem, cada vez mais seus limites, subindo o morro e destruindo os muros reais da segregação, do preconceito e da exclusão social.

" As pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de pontes" Bretch


























3 comentários:

Glória disse...

Olá, Roberto, vi seu comentário lá no Recomeço.Vim conhecer seu blog. É bom encontrar pessoas que compartilham nossa visão de mundo.
Interessante que há cerca de 20 anos ouvi uma figura "da alta" dizer: deviam construir um muro em volta das favelas. Aí está. Nada é impossível quando se trata de exclusão neste país.

Diogo disse...

Olá Roberto, te conheci hoje rapidamente no MP, quando estávamos entrando com o Baldez, nao sei se lembra..rs

descobri esse blog seu, gostei muito.

Abraço

Anônimo disse...
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